quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Teófilo Sonnenberg, Berg no mundo da música, nasceu em Angola em 1972. É hoje um dos novos valores cujo talento se divide pela composição, como musico e como cantor. Dono de uma voz que nos mantém presente as suas origens. São da sua autoria muitos temas que incluíram telenovelas, nomeadamente, “ Saber a Mar”, “ O Olhar da Serpente” ou ainda “ Morangos com Açúcar”, entre outros. Actualmente podemos vê-lo integrando a banda de Rui Veloso
I.V – Queres-te apresentar? Berg – Chamo-me Teófilo Sonnenberg, daí o nome de Berg, nasci em Angola, vivi na Suíça e nos Estados Unidos e tenho 34 anos. I.V – Quando eras menino já sonhavas em ser músico? Berg – Sempre tive uma paixão pela medicina veterinária mas na área dos animais de grande porte, nomeadamente os cavalos mas a música esteve sempre muito presente embora na minha família não haja ninguém na música. Talvez um bisavô que tocava trompete. I.V. – E como é que descobriste a música? Berg – Muito cedo por volta dos 8 anos, na escola fiz parte das actividades musicais em festas de fim de ano, depois formei a minha bandinha. Mais tarde, aos 12, já tocávamos. Cá em Portugal tínhamos um programa na R.T.P. 1, muito giro, o “ às dez”, depois fui para a Suiça. Toquei com várias bandas até me tornar profissional e assim tipo bola de neve as coisas foram começando até que há 8 anos atrás surgiu um convite para gravar, da Valentim de Carvalho. I.V. – Como se chama o teu disco? Berg – Chama-se “ Berg”. Estive também num projecto com os S.T.S., há um tema muito conhecido, “ 100 % Cool” que fez parte da telenovela “ Saber a Mar”. Sou até mais um compositor. Já fiz músicas para os Excesso, para a Rita Guerra, para o Beto, paras as novelas, “ Morangos com Açúcar”, “ Saber a Mar” e “ O olhar da serpente”. I.V. – Como é que te surge o convite para integrares o projecto do Rui Veloso? Berg – Toquei com vários músicos até que o conheci. Ele gostou e comecei a tocar. I.V. – Tens uma voz muito fora do comum. Terá a ver com as tuas raízes? Berg – sim tenho um registo muito diferente e canto muito em falsete. I.V. – É doloroso para ti o acto de compor? Berg. – Não é doloroso, mas fico muito ansioso. Por vezes quando há emoções muito fortes, estilo a raiva ou o amor, entro um bocadinho em conflito. São quase paradoxos, mas compor para mim é muito espontâneo e instintivo. I.V – Inspiras-te em quê? Berg – Em sentimentos e muitas vezes em estados de espírito. I.V. – A inspiração surge em qualquer altura? Berg – Em qualquer altura mesmo! Eu chego a parar numa estação de serviço na auto-estrada! Tenho sempre comigo um gravador. Como sou um autodidacta, tenho medo de me esquecer e gravo tudo. I.V. – Em que outros projectos tens estado envolvido? Berg – Tive a oportunidade de gravar um trabalho com o Boss A. C. foi muito engraçado e está a ter muito sucesso. I.V. Em que estilo de música te enquadras mais? Berg – Sou polivalente. Gosto muito de blues. Vem das minhas raízes. África está sempre presente. É inevitável, com uma mãe angolana. Eu tenho uma grande mistura! Um avô alemão com uma angolana e uma mãe mulata com um pai português, então sou assim... meio cabrito... (risos) I.V. – Mas isso não te afecta, pois não? Aquilo que já ouvi dizer que Deus criou os brancos e os pretos e que os mulatos não eram filhos de Deus, não faz nenhum sentido, pois não? Berg – Claro que não e não me afecta. O que acho mais grave em Portugal são as barreiras que nos colocam e sobretudo este estigma do não ajudes o teu próximo. Barra-lhe o caminho, se o puderes lixar, lixa-o...vou-te contar isto que me magoa um bocado, fiz agora um tema, “ Princesa” e estava combinado gravar um teledisco. Era bom estar na M.T.V. Não se realizou, nem sequer telefonaram. Estás a ver? Quando nos pedem para fazer uma coisa, é naquela, de darmos uma ajuda, dizem que é bom ajudar, mas depois não tive retorno, não fiz com a ideia de receber logo, mas é bom receber também. Era importante. Um artista novo como eu, que está a começar precisa desses tais empurrões. I.V. – Acreditas que se nasce músico ou que pode ser uma opção? Berg – Nasce-se sim. Não é um destino que se possa escolher. Tem que ser inato, espontâneo. Não é algo que se possa inventar. A criatividade tem uma certa energia que se vai desenvolvendo, mas ela nasce connosco. Hoje em dia muita gente quer ser artista com estes programas e vive com ilusões, depois têm grandes depressões, confrontam-se com a realidade de uma maneira bruta. Pode ser trágico. É uma sensação tão boa! Tu sabes disso. Subir ao palco, seres aplaudido, sentires-te amado, respeitado, essencialmente reconhecido, é tão bom! I.V. – O que é para ti o aplauso? Berg -É aí que nos energizamos, não é? Que ganhamos alento para continuar! São quase que um carinho de mãe. É o reconhecimento de tudo. I.V. – Será o talento necessário para ter sucesso numa carreira? Berg – O talento é muito importante, a criatividade também mas gosto sempre de dizer que é preciso 60% de talento e 40% de sorte e neste país há muitos lobbies. Aqui em Portugal a palavra “cunha” ajuda imenso, não digo no sentido de subornos mas em contactos. I.V – O que é a vida para ti? Berg – A vida é um desafio constante. É apaixonante mas aterrorizadora! Aterroriza-me viver. Talvez porque passo muito tempo a pensar, tenho muitos fantasmas, os meus medos surgiram, despertaram mais desde que nasceu a minha filha. Por ela estou sempre preocupado. O que vai ser dela. O que vai ser de mim nesta profissão. Sou um pai muito presente. Tive uma proposta para ir tocar para Inglaterra e não fui. Prefiro ganhar menos mas estar com a minha filha. I.V. – A Mariana tem quatro anos, já notas nela a inclinação para as artes? Berg – É impressionante. Ela está no ballet e adora piano. Já tem uma guitarra. Está sempre comigo no estúdio, por isso vive muito neste meio. Está familiarizada. Mas pronto. O filho do sapateiro às vezes não é o mais bem calçado. I.V – Que conselhos lhe darias? Berg – Que depois de ter um diploma na mão, O.K. se ela for feliz assim, eu apoiarei. A minha mulher é muito terra a terra. Acreditamos que estamos aqui para a guiar e que as opções terão que partir dela. É claro que como pai e sabendo o que esta profissão implica, é difícil, preferia que ela fosse médica. I.V. – Também concordo contigo que ser-se artista é sofrer um bocado! Berg – Não é fácil. Tu sabes, temos que expor os nossos sentimentos e há dias em que não nos apetece mas temos mesmo que cantar. Quando subimos ao palco passou. Esquece-se tudo. Aquele momento é mágico. Na música o melhor momento é mesmo aquele e que se sobe ao palco, o espectáculo, onde não há nada mais à nossa volta. Só nós e o público. I.V. – Qual é a tua maior paixão? Berg – A minha filha! A minha mulher e a música. I.V. – O que mais abominas? Berg – As pessoas prepotentes e os hipócritas e neste meio há imensas. Nunca se sabe. Vês grandes sorrisos e depois sabes não sabes se estás a ser apunhalado pelas costas. I.V. – O que te tira o sono? Berg – tenho medo de perder a voz, de não poder escrever a canção seguinte, mas o que realmente me tira o sono é se a minha filha está doente. Sou muito ligado a ela. Estás a ver? Estamos a falar de música e eu estou sempre a falar dela. I.V – É parte de ti, é natural! Quem é o Berg quando não estás a tocar? Berg – É um rapaz muito caseiro. Não gosto muito de sair à noite. Passo muito tempo com os animais, sabes? E cada vez gosto mais deles. Nunca há nada de dúbio. Adoro montar. Monto desde os seis anos, com os cavalos estabelecem-se laços muito verdadeiros. Uma empatia enorme. Vou-te contar uma coisa. Eu dou uma ajuda, numa escola de equitação. Dou apoio a miúdos deficientes. I.V – Chama-se a isso Hipoterapia, não é? E o que vês nos rostos dessas crianças? Berg – Vejo felicidade. Às vezes torna-se difícil. Os cavalos assustam-se com muita felicidade e muito embora sejam escolhidos a dedo, há sempre o risco de se assustarem porque essas crianças têm frequentemente espasmos nervosos, mas nessa crianças existe de facto uma evolução enorme através da interligação entre os cavalos, eles e a música. I.V – Que mensagem gostarias de deixar nesta entrevista? Berg – Em Portugal há um bocadinho esse estigma destrutivo e negativo, do acho que não dá, isto está mal que nem tentam. E seria bom mudar isso e depois, façam amor e não a guerra e de preferência com preservativo. Protejam-se e oiçam boa música.